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Papo de Especialista

A cruel realidade de uma sociedade “de Aparências”

O reflexo das necessidades primarias de uma criança em seus primeiros meses de vida é sem dúvida o choro.

Publicado em 20/07/2021 às 21:37

Coordenadora de psicologia

O reflexo das necessidades primarias de uma criança em seus primeiros meses de vida é sem dúvida o choro. Os sorrisos começam a surgir primeiramente como reflexos e depois, inocentemente, em resposta aos mimos, que a criança recebe. Quando a criança cresce, os gritos de alegria ou irritação e os gestos feitos com a mão, começam a aparecer naturalmente. Ao dar os primeiros passos e, antes de ter um ano de vida, as primeiras palavras começam a sair da boca da criança e ainda assim, a criança aprecia particularmente um vocábulo: o "Não".

Á medida que o seu comportamento evolui, a criança começa a ter cada vez mais certeza, daquilo que realmente quer. O relacionamento com os pais e com o mundo que a rodeia, é muito importante. As figuras materna e paterna são indispensáveis nos primeiros anos de vida da criança. A cumplicidade entre mãe/pai e a criança, determina mais tarde, o seu comportamento e afetividade com os outros. O carinho recebido nesta fase vem determinar no futuro a forma de se relacionar intimamente com os outros.

  Contudo, a necessidade de compreensão dos pais para com o valor e a importância de uma relação adequada neste período é indispensável visto que a personalidade da criança vai se formando ao longo do seu crescimento e de acordo com as experiências e ideais que lhe foram oferecidos. A personalidade nasce muito cedo e, solidifica-se com o tempo. As ações e comportamentos de uma criança são, em muitas situações, o reflexo daquilo que interiorizou, das atitudes dos pais e, do mundo que a rodeava.

Sendo a família o primeiro contato da criança com a sociedade em que esta inserida é esta que determinará com maior intensidade o processo de aculturação do indivíduo. Os ideais, as metas, a moral e a ética são instalados desde muito cedo na criança por intermédio dos pais visto que a família está sujeita a todas as forças da sociedade a qual faz parte.

 Os valores da sociedade moderna estão cada vez mais espalhados na memória dos indivíduos e estes, em processo de intensa aculturação, irão transmitir consciente ou inconscientemente à seus filhos e continuamente às próximas gerações. Pois, como representantes desta cultura, os pais, levam a responsabilidade de inspirar nos seus filhos os valores desta sociedade.

Os valores predominantes de poder e progresso desta sociedade moderna guiam seus membros a uma cultura neurótica de vida. É exigido da criança comportamentos que são destinados a inseri-lo num modelo social e cultural. Exigência esta que por um momento é rejeitada pela criança por conta de não satisfazer suas satisfações primárias. No entanto, é tão intensa que acaba “violando” o indivíduo e este acaba por acatar esta exigência a fim de garantir o amor e aprovação dos pais e da sociedade.

A natureza destas exigências e o modo como estas são cumpridas é que determinam a neurose do indivíduo. O processo de adaptação da criança a uma cultura vai determinar a forma como esta irá garantir sua saúde mental e garantir esta ao longo da vida. Com compreensão e amor é possível ensinar uma criança a forma como a sociedade vigente é sem violar ou retirar seus desejos e satisfações. O contrário irá destruir com os instintos mais primários do sujeito, levando-o a negar a si mesmo, sendo controlado pelas leis da sociedade.

Contudo, vivenciamos cada vez mais um formato de sociedade que vem crescendo e tendo as suas convicções cada vez mais voltadas ao ter e não ao ser, e que pode estar guiando os pais à um tipo de criação mais materialista e menos sentimentalista.

 Visto que a meta principal da vida é o prazer e nunca a dor é necessário repensar na forma a qual a sociedade e a primeira instância desta, a família, está guiando a educação dos novos cidadãos. Até hoje, o que se pode notar é a remoção de bloqueios já desenvolvidos e não uma prevenção para estes.

 É visto que ninguém escapa de passar por momentos de angústia e insatisfação, mas se estes vividos com medidas de prevenção de recalques estaríamos muito mais capacitados a crescer com uma independência considerável, autoconfiança e aptos para sentir prazer em viver.

 A imagem criada do homem atual é uma imagem fora do real. A alienação das pessoas no mundo moderno, a alienação do homem nas organizações do trabalho, de seus companheiros e de si próprio tem sido descritas por diversos autores. O amor do indivíduo alienado é visto como um romance inatingível, o sexo é compulsivo, o trabalho mecânico e seus empreendimentos cheios de egoísmo e poder.

 Vive-se numa sociedade alienada onde o amor, o trabalho e a sexualidade perdem o seu significado mais importante; o de viver e ter prazer. E esta perda é substituída por uma imagem a qual todos buscam incessantemente.

 No meio social, a imagem possui aspectos positivos e negativos. A dor pelo sofrimento e desgraça em larga escala não seriam possíveis sem o emprego de uma imagem capaz de mobilizar uma resposta em massa. Todo esforço humanitário não teria valia se não obtivesse uma imagem cativante. Sendo esta imagem cativante voltada para o bem ou para o mal, a sociedade aliada á mídia, faz o seu papel de vincular o padrão de ser do ser humano atual. Com isso, o perigo de ter apenas imagem para seguir, os indivíduos acabam por esquecer ou negar o seu próprio “eu” em busca da imagem imposta.

 Os pais, para que possam ver seus filhos inseridos na sociedade e aceitos por ela, incutem a imagem do ser ideal. Isto diminui a força do indivíduo de manter suas próprias vontades para seguir um padrão pré-estabelecido; voltado à imagem já criada. Imagem que sacrifica o meio ambiente natural do ser humano em nome do lucro e do poder. Isto revela a insensibilidade dos seres humanos face as suas próprias necessidades.

 O culto as coisas materiais criam opostos os quais não deveriam existir para uma vida com qualidade em excelência: o homem versus a mulher, o trabalhador versus o patrão, o indivíduo versus a comunidade. Desta forma, a riqueza acaba por ocupar uma posição mais elevada do que a sabedoria, o grandeza é mais admirada do que a dignidade, o êxito é mais importante do que o respeito por si mesmo e a imagem ideal sobrepõem –se ao ser real conduzindo ao narcisismo em massa.

 Sociedades inteiras voltam-se a padrões de imagem que julgam ser efetiva, deixando de serem e viverem felizes. Aquilo que pensam que é deles acaba sendo apenas o ideal social. Muitas culturas hoje incutem em seus indivíduos a ideia de seguir uma regra básica para serem aceitos. Mas e se esta regra básica não existisse, será que não teríamos indivíduos mais saudáveis e com mais capacidades de criatividade e espontaneidade frente às diversidades da vida?

 Somos ou não somos capazes de guiar nossas vidas por nós mesmos e por nossas próprias vontades? Afinal, somos seres capazes de discernir o que queremos e o que não nos serve. O livre arbítrio deve ser o nosso norte e a felicidade e satisfação pessoal as nossas metas para a vida feliz.

 O que cabe ao final deste texto é a reflexão: o que estamos querendo para o nosso futuro e para o futuro de nossos filhos e filhas? O ideal de mundo esta no materialismo ou no ser e viver plenamente e feliz?

Referências

ALENCAR, C. G. V. de. Que tipo de amor é esse? O ciúme e a traição segundo a psicologia corporal. Congresso de Psicologia Corporal / 2006.

 de Alencar Congresso de Psicologia Corporal / 2006

BAKER, E.F. O Labirinto Humano – causas do bloqueio da energia sexual. São Paulo: Summus Editorial, 1980

FADIMAN J, e FRAGER, R. Teorias da Personalidade. São Paulo: Harbra ed., 1986.

FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Edição standard brasileira de obras completas de Sigmund Freud (Vol. 7, pp. 117-232). Rio de Janeiro: Imago, 1996.

PERLS, F.S. Ego, Fome e Agressão. Uma revisão da teoria e do método de Freud. São Paulo: Summus Editorial, 2002.

RAPPAPORT, C. R. Teorias do Desenvolvimento. Conceitos Fundamentais. Vol. 1, São Paulo: EPU, 1981a.


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