A saúde e o bem estar das crianças dependem da interação entre o seu potencial genético e fatores externos como adequação nutricional, ambiente saudável, interação social e cuidados adequados. A nutrição é essencial para a promoção do crescimento físico, no desenvolvimento neuropsicológico e na construção da imunidade no combate as doenças infecciosas que afetam principalmente as crianças.
Nos dias de hoje estamos passando por uma mudança no conceito de fome e desnutrição. Quando falamos de desnutrição, o que vem na nossa cabeça, são pessoas muito magras, com deficiência de macronutrientes (proteínas, carboidratos e gorduras) muito óbvias.
Mas o que estamos vivenciando é uma epidemia de obesidade, síndrome metabólica e doenças crônicas não transmissíveis (diabetes, pressão alta, sobrepeso) e isso também é desnutrição.
O contexto de fome oculta é principalmente deficiência de micronutrientes (vitaminas e minerais) não só a falta do acesso ao alimento, que daí não só causa a fome oculta, mas também a fome real e uma deficiência de macronutrientes.
A fome oculta é a deficiência, principalmente de micronutrientes, os quais são imprescindíveis para todas as reações químicas e manutenção do organismo. Saímos da visão de que só em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento se vivencia a questão fome. Pelo contrário, esse conceito de fome oculta é um problema em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Onde as pessoas tem acesso a comida, pensam estar se nutrindo adequadamente, mas existe a deficiência de micronutrientes, não só pela composição do alimento em comparação do que era antigamente, mas principalmente por hábitos, por estilo de vida, por escolhas alimentares erradas, inclusão de alimentos ultraprocessados, interações medicamentosas, comprometendo a absorção de forma adequada dos micronutrientes, por doenças inflamatórias, por comprometimento intestinal. As pessoas se alimentam, ingerem comida, mas não conseguem atingir os micronutrientes que elas necessitam.
Hoje em dia temos a qualidade dos alimentos muito diferente do tínhamos antigamente, por conta do uso de pesticidas na produção agrícola, que são disruptores endócrinos, aumento da poluição, toxinas ambientais. Isso empobrece, tanto nosso solo e afeta a qualidade dos alimentos que colocamos para dentro do nosso corpo.
Então não basta só ingerir nutrientes, é preciso saber o que estou ingerindo, como está a biodisponibilidade do que eu estou ingerindo, como está o meu organismo para eu receber esse alimento, digerir isso corretamente e absorver corretamente os nutrientes.
Por isso nos dias de hoje o conceito de desnutrição é bem diferente do que conhecíamos antigamente, pois existe uma deficiência silenciosa de micronutrientes. A fome oculta acontece mesmo na ingestão de calorias em quantidade suficiente. O aumento progressivo do consumo de alimentos ultraprocessados (alimentos com baixo valor nutricional e ricos em gorduras, sódio e açúcares), resulta em má nutrição, desnutrição e deficiência de micronutrientes que coexistem com o sobrepeso e a obesidade.
Os efeitos são de geração em geração, devemos levar em conta como foi a gestação, se a mãe da criança teve disponibilidade aos micronutrientes em quantidade necessária para ela e para o bebê em desenvolvimento. Deveriam os casais que desejam gestar se prepararem para esse momento, buscando corrigir as deficiências nutricionais e assim evitar as intercorrências em saúde.
Muitas vezes essa mãe já entra “desnutrida” na gestação, não se alimenta de forma adequada, não faz uma coleta de exames para dosar vitaminas e minerais necessários, não suplementa adequadamente. O bebê já nasce em prejuízo nutricional, as recomendações oficiais de
suplementação não atendem a necessidade de forma individualizada, pois não levam em conta o histórico de vida e gestação. Muitas vezes esse bebê não é amamentado com leite materno, e sim com fórmula e introdução precoce de leite de vaca. A introdução alimentar não é diversificada, os agravos aumentam com o passar do tempo com a seletividade alimentar.
A deficiência de zinco por exemplo, é um dos principais causadores de deficiência de crescimento em crianças menores de 5 anos.
O ideal seria planejar a nutrição adequada, dosar vitaminas e minerais pelo conceito de 1.100 dias, o qual corresponde a preparação para a gestação, a gestação e os primeiros dois anos de vida da criança. Mas nunca é tarde demais para corrigir deficiências nutricionais, suplementar adequadamente, modificar a alimentação e iniciar hábitos mais saudáveis.
Não importa a idade do seu filho ou a sua, sempre é tempo de corrigir e colher os benefícios. Procure uma nutricionista, médico, quanto mais cedo a intervenção melhor.
Laís Buratti Mibach
Nutricionista Materno Infantil – CRN 8 7826
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